As plantas têm raiz e crescem em direção à luz. Cabeça e corpo. Não existem extremos separados mas sim comunicantes e interligados. A sua separação é a causa da morte da planta.
Tenho refletido, estes últimos dias, depois das plantas medicinais terem despertado em mim uma ponte entre as energias do nascimento e do final da vida, sobre a interação entre a ciência, que cada vez mais explora o potencial das plantas, e a beleza. Ao falar com pessoas da área das ciências e investigação deparo-me com uma conversa, muito interessante, sobre os químicos e todos os potenciais de cura que se abrem nesta área de investigação. Referem que tomar um comprimido, que contém as mesmas substâncias retiradas das plantas, é igual a realizar todo um ritual de conexão e gratidão ao espírito da planta. Fiquei a sentir e a pensar nisto durante uns dias e a questão que se abriu em mim foi:
Art by: Mandrágora
- Quando é que perdemos a beleza? Quando é que nos desconectámos da magia e do encantamento do mundo? Quando é que nos perdemos da arte da vida? Quando é que nos desconectámos da relação com todos os outros seres da natureza? Como é que podemos acreditar que tomar um comprimido é a mesma coisa que nos conectarmos com toda a Natureza que nos proporcionou o potencial e milagre da cura (seja ela física, emocional, espiritual ou outra).
Perder a beleza é perder-nos de nós próprios.
Perder a beleza é matar quem somos, em tudo aquilo que fazemos. Poesia, música, cores, fantasia, Arte.
Perdeu-se a “beleza” na medicina convencional e desde que comecei a trabalhar, há mais de 19 anos, como enfermeira, que agora entendo que a procuro resgatar em mim e em tudo aquilo que faço. A criação do curso de doulas do fim da vida é mais uma gestação que procura relembrar e reativar a magia perdida.
A Natureza, e todas as suas formas criativas infinitas, é a expressão artística mais extraordinária que alguma vez poderemos vivenciar. É fonte de inspiração para todas as outras formas de arte que saem da nossa imaginação. Reduzi-la a químicos e comprimidos é alimentar mais a depressão e outros distúrbios do foro mental, que crescem estonteantemente, e que as próprias ciências e estudiosos pretendem colmatar com o uso destas mesmas medicinas. “Curar” com químicos encapsulados é continuar a alimentar a origem dos nossos distúrbios e criar outros. Quando exploramos a arte da natureza fazemos o mesmo connosco e alimentamos a ciclo depressivo.
Quando somos crianças a magia faz parte de nós. Nasce connosco. Nós nascemos de um feitiço poderoso, de duas energias naturais e sobrenaturais, e somos feitos desse mesmo encantamento. Acho que nos temos esquecido desta magia da qual nascemos. Focados apenas na biologia, química, fisiologia, mecânica corporal, esquecemos a beleza e a magia. Esquecemos a arte de fazer amor. Uma placa de petri num laboratório de fertilidade é a mesma coisa? O resultado pode ser “igual” mas será a mesma coisa? Afastados dos ciclos da natureza do nosso corpo, esquecemos que esta beleza resplandece dentro de nós.
Quando somos bebés e crianças, vemos magia em todo o lado. Somos encantados pela chuva, pelo sol, pela música, pelo vento, pela música no vento, pelo arco íris, pelas flores. O mundo inteiro é um caldeirão de feiticeira onde são fabricados sonhos. À medida que vamos crescendo, o brilho do nosso olhar perde-se. Dizem que é a realidade que começou a tomar conta de nós. Mas a realidade não tem que afastar a magia. Podemos ver a verdade do mundo e o seu encantamento.
Perder a Magia e a beleza é perder-nos de nós.
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