"Gratidão. É o que sinto por te ter conhecido graças ao Paulo. E esta gratidão desenvolve em mim o desejo imenso de dar Amor."
Júlia
Estas foram as palavras que há pouco tempo a Júlia me expressou numa mensagem. Confesso que ainda estou a navegar neste sentir tão simples, tão belo, tão profundo. Poesia para o meu coração. Poesia para a minha pele que as sente na expansão de mim, fora do meu corpo.
Há alturas em que me questiono imenso sobre quem sou, o que ando a fazer por estas terras belas e muitas vezes densas. Questiono-me sobre se vale a pena, sobre o propósito, sobre se quem sou, o que faço e quero trazer ao mundo vem do meu ego, da minha necessidade de ser vista e amada ou de outro espaço maior do que isto tudo. Também me questiono se estas questões todas vêm do espaço do medo. Medo de mostrar quem sou. Mostrar a minha linguagem, a minha arte de ser o que sou. Nestas alturas preciso de uma pausa. De me recolher. Mesmo que por breves instantes. Contemplo o vento, as árvores, a água, a terra debaixo dos meus pés descalços. A resposta que muitas vezes me vem é: não sei. Não sei nada de nada. No entanto, concedo espaço, neste não saber, para o saber da vida. Sei que ela me vive. Respiro-a. Faço o exercício de lhe ceder espaço. Todo o meu espaço: faz de mim o teu templo.
Ser doula é um espaço de Ser mais do que o de fazer. Mais do que estar ao serviço do outro, através do necessitar do outro, mais do que uma profissão para ajudar o outro e da qual se depende, no que diz respeito a rendimentos (normativo do patriarcado) é ser-se todos os dias. No café, no trabalho, com amigos, desconhecidos, amantes, animais, árvores, flores, seres invisíveis....
Que a morte nos ajude a largar o velho e a caminhar para o novo. Que nos ajude a trazer a beleza, o poder e a simplicidade de sermos quem somos.
Ana Catarina
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