Acredito que a Vida é um processo de Cura e Reconhecimento, e aquilo a que chamamos de Morte e Nascimento nada são mais do que passagens para outras dimensões de energia (a matéria nada é mais do que energia que se move a uma velocidade mais baixa).
Acredito que o campo eletromagnético humano guarda na memória, de todas as células do corpo físico, as lembranças da nossa vida, desde a conceção, e mesmo antes desta, até à morte. O processo de morrer, como o conhecemos neste plano, também faz parte da nossa vida, apesar de termos dificuldade em falar dele.
Acredito, também, numa memória coletiva que passa de geração em geração. Não apenas temos memórias dos nossos pais mas também de uma família maior. A família da Terra. A família Universal. A informação guardada, e as nossas crenças atuais, podem-nos condicionar de tal maneira, que nos impedem de sermos nós próprios e nos encaminham, muitas vezes, à doença.
Acredito que o nosso corpo físico (terra / matéria) é apenas uma parte do que reconhecemos. Creio na energia que concebe a matéria. É esta energia que se manifesta num eletrocardiograma, num eletroencefalograma, numa eletromiografia, e sobre outras formas materiais. Através destes exames, da biomedicina, podemos vislumbrar parte da energia que somos. Mesmo os mais incrédulos não podem negar esta evidência.
Será que conseguimos celebrar, amar a nossa vida e o nosso corpo, mesmo quando ele nos falha e adoece? Como nos vemos no envelhecimento, nas perdas, na morte? Que memórias temos guardadas destes momentos?
Cada um de nós vibra numa frequência energética única, mas influenciada e condicionada por energias de outros. Bruce Lipton, cientista norte-americano, refere que não podemos ignorar a sabedoria natural do corpo humano. Neste instante, há milhões de células embrionárias indiferenciadas desenhadas para substituir células doentes. No entanto, a atividade e o destino destas células regenerativas são influenciados pelos nossos pensamentos e perceções do ambiente. Por exemplo, as nossas crenças relativas à doença, envelhecimento, à morte, e outras, influenciam na regeneração ou destruição do nosso corpo. Da mesma forma que o aparelho da televisão capta as ondas transmitidas através do ar, também os recetores celulares captam informação do ambiente exterior para formar o que chamamos a nossa individualidade pessoal. Esta informação é recebida e guardada em arquivos nos nossos computadores, de geração em geração. De vida após vida. Tudo fica guardado.
O campo eletromagnético não é exclusivo ao nosso corpo. Existe em tudo e em todos. Podemos, assim, admitir que a forma como olhamos o nosso corpo, se o amamos e respeitamos, a maneira como vivemos e pensamos sobre a nossa vida, irá influenciar a forma como vivemos as perdas, as mortes no nosso dia a dia e a nossa perda maior: a perda do nosso corpo nesta vida. A energia que geramos em nós não fica apenas em nós mas plasmada, também, à nossa volta e em quem nos rodeia. Se tivermos padrões, plasmados no nosso corpo, que nos impedem de nos amarmos, mesmo na doença e na morte, esta energia perpetua na energia dos nossos filhos, amigos, companheiros, conhecidos e também na energia da Terra. A forma como morremos, desta forma, fica plasmada na energia que libertamos ao morrer, na energia coletiva da Terra e na memória dos que nos rodeiam. Os grandes mestres do oriente afirmam que o nascimento e a morte são dos momentos mais preciosos que temos. São momentos de uma grande oportunidade energética de cura. São momentos de criação onde grande energia é canalizada. São portais de transformação, não apenas individuais mas coletivos. São oportunidades de reconhecimento da nossa essência maior. Da energia do Amor da criação e transformação. O que acontece, nestes momentos, se a energia que vibra em nós está carregada de ignorância, medo, desprezo, culpa, ressentimento, ódio, abandono, rejeição, injustiça, traição, humilhação?
Os orientais falam-nos dos quatro elementos da natureza e em como estes se dissolvem no processo final do morrer. É um processo energético intenso, tal como na criação de um feto e do seu nascimento. Como parte da natureza, também somos feitos destes elementos: terra, água, fogo e ar. O que é que acontece na morte? O Elemento Terra: o corpo começa a desintegrar-se, a perder faculdades físicas. As pernas e braços já não têm a mesma força e reflexos que antes. Precisamos de ajuda para andar, para nos levantarmos, para nos virarmos na cama. Engolir a comida pode ser um processo mais lento e os músculos da deglutição também começam a ficar mais preguiçosos. Elemento água: a pessoa tende a ficar mais desidratada e urina menos. O corpo produz menos fluidos, secreções, enzimas. As mucosas ficam mais secas. Engolir pode ser um processo difícil e a pessoa pode engasgar-se com muita facilidade, principalmente com os líquidos. Os rins deixarão de funcionar respeitando e alinhando-se com o processo energético do corpo. Por este motivo, é muito mais confortável as pessoas morrerem levemente desidratadas. O intensivismo e a insistência em dar líquidos e alimentos, nesta fase, pode resultar num grande desconforto para a pessoa que está a partir. Numa incoerência energética, espiritual e física. De igual forma, as pessoas ficam mais introspetivas e refletem sobre a sua vida. Pode surgir o medo, a tristeza. Entramos mais em contato com as emoções e a nossa natureza e essência. Não é por acaso que 60% das nossas células são feitas de água. Não é por acaso que crescemos dentro de um útero de água. Nesta fase, de últimas semanas / dias / horas de vida voltamos a querer entrar dentro de um outro Útero. Um Útero Maior. Um Útero Universal. É importante respeitar esta fase introspetiva. É importante ouvir e apoiar nas emoções que surgem e não fugir a elas, não mascarar. É a mesma etapa que pela qual passa a mulher grávida (e o bebé) que está a parir o seu filho. É essencial o silêncio, a tranquilidade, um ambiente introspetivo e seguro que permita o corpo segregar as hormonas essenciais a um parto natural. O mesmo acontece na morte. A morte também se pare. Ghalib, um poeta persa, diz que “para a chuva a alegria está quando entra no rio.” É nesta fase que deixamos de nos ver como apenas uma gota mas como pertencentes a um mar imenso e a todas as gotas da chuva. Depois acontece a dissolução do fogo: nesta etapa podem ocorrer oscilações da temperatura corporal. Pode ocorrer a febre e infeções. O metabolismo desacelera e as extremidades do corpo ficam frias. Podem aparecer os livores ao longo do corpo e a coloração da pele também se altera. Fica bacilenta. Também é a etapa da chamada “melhoras da morte”. Todo o corpo desperta novamente, mas agora, se todas as etapas posteriores foram respeitadas, é ativado uma nova compreensão, um novo olhar sobre a vida e o viver. É aqui que se pode dar o despertar espiritual, ainda nesta vida. A compreensão da sua / nossa existência: o Amor. Toda a vida é entendida. Todos os “erros”, todas as etapas, todas as relações. Amar, ser amado, perdoar, ser perdoado, aceitar, agradecer. Depois do fogo vem o ar: a energia, em forma de ar, que entrou nos nossos pulmões após a nossa saída do útero da mãe, será devolvida e voltamos a entrar no Útero, o Útero Maior, onde respirar não é preciso, tal como dentro do útero materno (a nossa mãe terrena). Ocorrem as oscilações do padrão respiratório até que acontece um expirar final. A única coisa que se presencia neste espaço é a respiração. A morte é assim idêntica ao nascimento. Todas as pessoas se focam naturalmente na simplicidade do respirar. Quem já vivenciou e sentiu, este processo de entrega, entende que não há palavras que o decrevam. Ficamos nus, despidos de palavras e rodeados de Amor. O mesmo Amor que agora, a pessoa que partiu, É.
Resumindo, Ostaseski refere que o elemento Terra se dissolve na Água, a Água no Fogo e o Fogo no Ar. O Ar dissolve-se no espaço. O espaço dissolve-se na consciência Universal. Energia e matéria. Um Só. O que era compreendido como dois, se o processo for respeitado, caminha para a inclusão. A dualidade deixa de existir. A sombra une-se à luz.
Clarisse Lispector diz que a morte é o nosso maior acontecimento individual. Acrescento que não é apenas individual mas coletivo. Se não partimos em Amor, como é que partimos? Se o nosso campo eletromagnético, e de quem nos rodeia e acompanha, não vibrar na energia do perdão, compaixão, consciência universal, aceitação, reconhecimento, que marcas ficam em nós e naqueles que nos rodeiam? Que energia se manifestará? Que energia fica plasmada no espaço onde a pessoa partiu, nas pessoas que acompanharam, no espectro do Universo a que todos pertencemos? Que mensagem transmitimos? Que energia atraímos?
Num tempo em que as sombras se manifestam, e se mostram a nós com toda a sua intensidade, que escolhas fazemos nós? O mundo à nossa volta é apenas o reflexo de todos.
A morte e o nascimento, devem ser vistos como algo de profundamente sagrado e em sintonia profunda com a Vida como um todo.
Podemos imaginar a morte / nascimento como algo sagrado?
Acredito que sim. Quanto mais conscientes do amor, mais conscientes de nós.
Ana Catarina
Inspiração: O livro tibetano da vida e da morte de Sogyal Rinpoche; The five invitations de Frank Ostaseski
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